Por séculos ficamos no anonimato absoluto. Por vezes, éramos lembrados em filmes de comédia, o caipira trapalhão com cigarro de palha no canto da boca.
Nossa gente humilde do campo, invariavelmente, tem uma história de superação. No início, como pioneiros, famílias inteiras em busca de uma vida melhor se arriscaram sertão adentro, submeteram seus entes queridos a situações de intempéries, doenças e sofrimentos. Essa busca frenética e destemida abriu o sertão brasileiro, transformou o Brasil em potência mundial na produção de comida.
A nossa história ainda não foi contada. Um estudo histórico e sociológico precisa ser feito para explicar como essa gente humilde, de pouco ou quase nenhuma escolaridade, abraçou a tecnologia e implantou processos produtivos que estão sendo copiados mundo afora. Nossa gente prosperou, orgulhosa, foi morar com conforto na cidade.
Um fenômeno estranho e de difícil compreensão aconteceu: começaram a nos chamar de destruidores do meio ambiente. O caipira, outrora objeto de chacota, passou a ser mostrado como coronel desalmado, o rei do gado que explora seus semelhantes e destrói nossas florestas. Nossa sociedade urbana, com pouco conhecimento do campo, é inundada com notícias negativas sobre nossas atividades rurais.
Ficamos atônitos, criamos trincheiras e de lá, começamos a rebater as inverdades. Críticas infundadas foram rebatidas com agressividade pouco efetiva.
O campo precisa falar com nossos irmãos urbanos, precisamos contar quem somos, nossa história de luta resiliente, de como adquirimos nossos pertences. É preciso reconhecer alguns erros do passado, separar de uma vez o produtor rural dos bandidos destruidores, grileiros ilegais que se escondem no nosso meio.
O moderno agro negócio brasileiro e seus atores são parte da solução climática do planeta. O caminho rumo à produção de alimentos com emissões de gases de efeito estufa zero já está acontecendo. É urgente que nossa academia valide metodologia tropical para avaliação de nossas emissões. A preservação precisa ser paga em dinheiro, é preciso deixar de lado o discurso fácil, o produtor rural tem que receber por seus serviços ambientais.
É importante salientar a política pública implantada no MS. Hoje, temos um fundo que pode receber recursos e os mesmos serão repassados a quem preserva o Pantanal. O Governo Estadual fez significativo aporte, estamos confiantes de que nossas ONGs de preservação, países do mundo rico e grandes empresas poluidoras, farão o mesmo. Caso não ocorra, vamos entender que os discursos eloquentes de preservação estão na seara da hipocrisia.
O mundo anda esquisito, virou “um eles contra nós”, ninguém quer mais ouvir opiniões contrárias às suas. As discussões, antes saudáveis trocas dialéticas, deram lugar a brigas entre pessoas e grupos intransigentes. As ideias passaram a ser seitas. A nossa gente humilde do campo não deve participar dessas distorções. Vamos levar nossa narrativa, com carinho e paciência; o campo precisa abraçar o mundo urbano. Nossas cidades precisam conhecer nosso amor pelo mato, somos adoradores de vacas, apaixonados por plantas, observadores da vida de nossas terras, amantes do nascer do sol, das estrelas…
Somos os caipiras tecnológicos!